Inclusão de autistas no mercado de trabalho
Muito se tem ouvido falar sobre autismo.
Sempre com um foco muito maior sobre o autismo em crianças do que em adultos.
Para crianças, se estabelecem leis e medidas que visam a inclusão escolar, o acesso ao acompanhamento médico e demais necessidades.
Já em relação ao autista adulto, pouco se ouve falar de medidas para a vida prática.
E a pergunta que fica é:
E quando passar a fase escolar, como ficará a inserção do autista no mercado de trabalho?
Desde dezembro de 2012, a pessoa com TEA (Transtorno do Espectro Autista) é considerada pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais, conforme estabelecido pela Lei nº 12.764/2012
Daí nasceu a garantia de inclusão do autista no mercado de trabalho pelo sistema de cotas.
Não iremos abordar aqui a obrigatoriedade de cumprimento da lei de cotas.
Até porque, diante do preconceito com as pessoas com transtornos do espectro autista, as empresas buscam profissionais com outros perfis para cumprir a lei de cotas.
Entendemos que a empresa deve adquirir consciência social e se preparar para contratar cada vez mais pessoas com TEA.
E não se fala apenas de empresas grandes, mas, também, e, principalmente, de empresas de pequeno porte, que representam 90% dos estabelecimentos no Brasil.
Para as pessoas com autismo o trabalho significa, não somente um meio de subsistência, mas também, uma das mais eficientes formas de sociabilidade e construção de sua autonomia.
Imagine como deve ser o sentimento de tristeza e inutilidade de alguém que não consegue auferir renda, precisar depender de outros.
É fazer com que o ser humano se sinta incapaz de prover a sua própria subsistência, de ter convício social laboral.
Gerir o seu próprio dinheiro e reconhecê-lo como mérito do seu esforço proporciona prazer. E é um direito de qualquer pessoa.
De fato, há intolerância em relação as mais diversas áreas da sociedade, pois consideramos diferentes todos aqueles que não seguem as condutas socialmente estabelecidas e nos afastamos.
A inclusão no trabalho é uma necessidade social e pessoal, e não apenas uma forma de auferir renda.
Ao contrário do que muitos pensam o autista pode conseguir se firmar em um emprego de maneira independente.
A falta de informação e o preconceito levam os empregadores a acreditarem que um autista não tem a mesma capacidade de realizar tarefas sob pressão. E que a pessoa com autismo não consegue se relacionar em grupo.
Podemos afirmar.
Pessoas com autismo são muito estigmatizadas nos diferentes quadrantes da sua vida, sendo, um deles, o emprego.
Precisamos derrubar este mito.
A estimativa é de que existam 2 milhões de pessoas com autismo no Brasil.
E dados do IBGE dão conta de que 85% dos autistas brasileiros estão fora do mercado de trabalho.
Devemos pensar:
Como pessoas cheias de potencial ficam fora do mercado de trabalho?
O mercado de trabalho busca um profissional com alto índice de concentração, foco e objetividade. Além de habilidades específicas em organização, facilidade no cumprimento de regras e normas, pontualidade e responsabilidade.
Estas são características comuns aos autistas.
Por isso, o mercado de trabalho precisa cada vez mais se preparar e buscar absorver a mão-de-obra de pessoas autistas.
Há um artigo interessante no site Autismo em dia que traz 6 opções que podem ser ideais para promover carreiras para autistas, as quais reproduzimos abaixo:
1. Profissões que envolvam animais
2. Ciências da computação e outras tecnologias
3. Artes visuais
4. Estoque e logística
5. Trabalhos investigativos e que exigem boa memória
6. Trabalhos industriais
O mercado precisa de profissionais com estas características e há mão-de-obra disponível.
Qual a razão para não contratar?
A única explicação é o estereótipo e preconceito.
Dizer que os autistas não se encaixam em um padrão vigente e estereotipado de comportamento, se relacionam e interagem de forma não padronizada, de muitas vezes não gostarem de contato físico; não podem ser usados como argumentos para a exclusão de pessoas brilhantes do mercado de trabalho.
Cabe ao líder inclusivo, empresário inclusivo e empresa inclusiva começar a pensar em formas de incluir pessoas com autismo em suas equipes. E há grandes motivos e estudos que demonstram não ser essa uma ação filantrópica, mas sim uma grande oportunidade de ter profissionais que trarão lucros para as organizações.
Um exemplo é o médico do seriado The Good Doctor, temos o personagem Shaum Murpy, um médico residente com caso de TEA.
Ele possui inúmeras dificuldades de comunicação e de socialização no ambiente de trabalho, a série deixa evidente. Mas, ao mesmo tempo fica claro que ele desempenha suas funções profissionais de forma brilhante, superando suas próprias limitações para se integrar a equipe do prestigiado hospital.
Alguns podem dizer:
– isso é ficção!
Não é.
Não sei se a vida imitou a arte ou se a arte se valeu de um caso real, mas temos um exemplo vivo de um médico com autismo.
Aos 26 anos, Enã Rezende, foi notícia nos principais jornais por ter se formado em medicina pela Universidade de Cuiabá (Unic), no Mato Grosso
A conquista chegou vinte anos depois de uma professora dizer que ele não teria condições de ser alfabetizado. A colação de grau dele aconteceu em 15 de fevereiro de 2017.
Na faculdade, foi um aluno exemplar que nunca reprovou em nenhuma disciplina.
Está aí um grande exemplo da vida real.
O mercado de trabalho está perdendo grandes talentos.
Ampliar a diversidade de contratações é um caminho traçado por algumas empresas. E esta ampliação abrange a neurodiversidade – conceito que considera o desenvolvimento neurológico atípico uma diferença humana, que deve ser respeitada.
Podemos citar aqui algumas empresas que utilizam o conceito de neurodiversidade para a contatação de profissionais: Itaú Unibanco, Specialisterne, SAP e Dow Química.
Mas, engana-se quem pensa que elas precisam preencher cotas ou querem somente realizar projetos sociais. O objetivo, na verdade, é ganhar vantagens competitivas.
Nossa missão é dar poder a um grupo de pessoas que não têm acesso aos mesmos direitos que nós. Há muitos segmentos da sociedade que são subaproveitados e autistas são um deles, diz Gray Benoist.
Não entenda que estas empresas empregam autistas como uma forma de “caridade”, mas sim porque “é bom para a empresa”.
Conforme diz diz Steve Silberman, autor do livro Neurotribes (Neurotribos, em tradução livre):
Para muitos autistas, se eles acharem um lugar onde se sintam apoiados e sintam que suas habilidades podem prosperar, eles ficam muito dedicados e não saem. Isso é econômico para as empresas porque aí elas não precisam treinar novamente outras pessoas.
Em artigo que analisou como está o mercado de trabalho para pessoas com autismo, um gestor de uma empresa inclusiva relatou que:
o benefício vai muito além do funcionário com autismo contratado, a equipe toda é contagiada com a atitude da empresa, se sente orgulhosa de trabalhar num lugar inclusivo e até a produtividade melhora, além do clima e colaboração entre todos. As entregas e o rendimento dos funcionários é muito bom. Mas o valor maior para mim é o quanto receber esses jovens aqui na empresa aumentou o engajamento da minha equipe, confidenciou um dos gestores a ele. É benéfico a todos ao redor.
Seja uma empresa inclusiva.
Seja um líder inclusivo.